MANCHA -MARCHA – MATER
Mariana Barrote
09 Março 2024 – 20 Abril 2024
© Carlos Campos
Na sua impressão instantânea e quase impercetível, a imaginação antecipa sempre um movimento a realizar. A marcha humana — o caminhar a pé e em frente — inscreveu-se como imagem/metáfora de noções de progresso; linearidade temporal e narrativas evolutivas. Em Mancha — Marcha — Mater distorce-se essas premissas ao elaborar sobre a marcha como condição corporal implicada na imaginação, e metáfora não de uma evolução qualitativa e linear da espécie, mas antes como um corpo que se movimenta aberto a transformismos, desprendido das anteriores limitações.
Desenhar é submergir no corpo; esse que não precisa de pensar, que pode andar sem cabeça. Pode também desenhar sem cabeça. Desse gesto subversivo, porque alberga estratégias de aplicar o acaso e descondicionamentos na produção visual, parecem vestígios do imaginário. O corpo emerge transformado, atento à morfogénese das suas imagens, que se complexificam a partir de um estágio inicial cúmplice da perceção. Em Mancha — Marcha — Mater vêem-se, na origem dos desenhos, movimentos espiralados, forças centrífugas e desordenadas. Partem de manchas ou de movimentos aleatórios e cegos: remetem a uma origem das formas visuais vinculada à matéria e ao corpo humano. As imagens transformistas surgem onde a matéria as perceciona, como no caso da pareidolia. No presente contexto, são desencadeadas pelas sugestões imaginais das manchas de tinta e dos aglomerados de gesso (estes últimos indefinidos na evocação de nuvens; de uma anatomia híbrida; ou das simetrias dos cartões Rorscharch).
Mariana Barrote, 2024
Mariana Barrote (1986) vive em Viana do Castelo e é representada pela galeria Lehmann+Silva, Porto.
Atualmente é doutoranda em artes-plásticas na Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto e bolseira de investigação pela Fundação para a Ciência e Tecnologia. Na mesma faculdade concluiu o mestrado em desenho e a licenciatura em pintura.
Interessada por transformismos, desdobra o seu trabalho em desenhos; pinturas; objetos e vídeos que articula na construção de narrativas visuais. O desenho, enquanto matriz, expande-se transdisciplinarmente, o que amplia o carácter heterogéneo de cada um destes meios de expressão e reflexão.
Composta por imaginários simbólicos e carnais, muitas vezes expressivos de uma prática arquivística e associativa de imagens, o seu desenho remete para o corpo humano — anatomicamente desfigurado por movimentos excessivos, existindo entre o humano e o divino.
Equipa:
Direção Artística e Curadoria: Clube de Desenho
Desenho de Exposição e Montagem: Carlos Pinheiro, Marco Mendes, Mariana Barrote e Sofia Barreira
Produção: Sofia Barreira
Comunicação: Irene Loureiro e Sofia Barreira
Registo Fotográfico: Carlos Campos
Material Gráfico: Adriana Assunção
Agradecimento: Alexandre Mota
© Carlos Campos
© Carlos Campos
© Carlos Campos
© Carlos Campos
© Carlos Campos
© Carlos Campos