CAPRICHOS E DISTRAÇÕES

LUÍS FORTUNATO LIMA

04 Nov. – 09 Dez. 2023

© Nuno Brandão

Lugares de Pouca Luz 
Algumas considerações sobre Caprichos e Distrações de Luís Fortunato Lima

1
O desenho como imagem é algo a que chegamos demasiadamente tarde.
Rosand lembra-nos que o que vemos é um resto, um fantasma, da ação que faz o desenho. E que o nosso olhar tenta reconstruir de algum modo. Um olhar que vem do que nos olha, na linguagem de Didi-Huberman.

Ver no desenho, através dele, como algo que nos atravessa o olhar, e que nos atinge em cheio, e não sabemos exatamente como isso acontece. O que vemos no desenho reflete muitas vezes as nossas próprias experiências, num diálogo comprometido com qualquer vestígio revelador do que pode ser visto ou conhecido.

2
O que pode ser visto aparece como sugestão de paisagem, que sobrevém, figurada numa iluminação limitada ou insuficiente — lugar de pouca luz — numa ilusão perspetivista, para surgir como evocação atmosférica. E contemplar a distância infinita que a atravessa, e expandir a perceção, para além do limite determinado pelo lugar onde se instala.
Como um lugar em decomposição e de criação ao mesmo tempo, onde o
desenho se faz e refaz em cada gesto. E cada gesto é em si mesmo uma abertura à forma, como sugere Nancy. Um movimento evocativo de alguma coisa, para alguma coisa. Talvez um lugar. Talvez uma sugestão de um espaço. Talvez uma paisagem levemente matizada de uma pintura ainda na expectativa.

3
Como imagem latente para uma paisagem, formada por manchas, por vezes
cores pálidas, gestos mínimos, dentro de uma ordem convencionalmente
comprometida com o desenho ou com a pintura. Explora na representação, a interpretação e invenção da paisagem, até aos limites da abstração. Pelo desenho
parece passar toda a força para conhecer, dialogar e interrogar, um certo estado da realidade.

Como um testemunho, quase perdido, um estado da paisagem, talvez partículas suspensas na atmosfera, poeiras ou vapores de água, que dispersam a luz perdendo nitidez e intensidade. Assemelhando-se a uma forma de escrita, os desenhos aparecem como, traços, tramas, nublosas, restos, gestos incorporados no papel como ressonância do que se vê, do que se imagina, ou conhece de algum
modo.

4
Nos desenhos de Luís Fortunato Lima, somos frequentemente induzidos a
ficar, e deixar que o nosso olhar se perca e reconstrua vagarosamente nas sugestões que o desenho faz aparecer. São uma forma de pensar o desenho e a pintura, unidos a uma experiência comum, onde a natureza é capturada e recriada. Se nos aproximamos de um desenho ele revela-nos complexidades na sua pele. Barthes acredita que o olhar tende a fragilizar as fronteiras e quando olhamos deste modo, da paisagem já nada resta.

JJM, 28 Out. 2023

LUÍS FORTUNATO LIMA, 1976

Nasceu na cidade do Porto, onde viveu até 2021. Atualmente reside em Miramar e trabalha em Vila Nova de Gaia e no Porto.
A sua formação decorreu na Faculdade de Belas Artes da U.P., onde obteve licenciatura em Artes Plásticas-Pintura (2002), Grau de Mestre em Práticas e Teorias do Desenho (2007) e Grau de Doutor em Arte e Design – Ramo de Estudos da Pintura (2017).
Lecionou Desenho na Faculdade de Arquitectura da U.P., entre 2006 e 2020. Desde 2019, leciona Pintura na Faculdade de Belas Artes da U. P., em regime de tempo parcial.
Na sua actividade académica, incluem-se alguns estudos dedicados à reflexão sobre pintura, desenho e imagem, alguns dos quais se encontram publicados.
Está ativo como artista plástico desde 2002, com particular dedicação à pintura e ao desenho. Realizou 16 exposições individuais e participou em várias coletivas. A grande maioria da sua obra (que no total ultrapassa 350 peças) integra coleções particulares, nacionais e estrangeiras. Está referenciado em várias publicações.

luis-fortunato-lima3.webnode.pt

Equipa:

Direção Artística e Curadoria: Clube de Desenho

Desenho de Exposição e Montagem: Carlos Pinheiro, Luís Fortunato Lima , Marco Mendes e Sofia Barreira

Produção e Comunicação: Sofia Barreira

Registo Fotográfico: Nuno Brandão

Material Gráfico: Adriana Assunção

© Nuno Brandão

© Nuno Brandão

© Nuno Brandão

© Nuno Brandão

© Nuno Brandão

© Nuno Brandão

Apoios: