A SICÍLIA É UMA ILHA

GRAÇA MAGALHÃES

ELIANE BEYTRISON

04.MAR – 15. ABR.2023

A Sicilia é motivo. A ela se liga o tempo, ou melhor, os múltiplos tempos. O que pode ser contado e o que se sobrepõe, invade, espanta, resiste, sobrevive. O que resta (registado sobre o papel) é a experiência como acto de resistência, conduzida pela cegueira do conhecimento e confrontada com pequenas cintilações – indícios – que, em seguida, deixam de o ser. A cegueira capaz de iluminar é, neste caso, maior do que a sombra do passado.
Desenhar a paisagem siciliana é admitir uma acção ficcionada. O olhar revela-se apto a corporizá-la. O sentido de perda referencial convoca imagens reveladoras da distância que aproxima os corpos. Reaparições, mínimas cintilações, a identidade remota dos lugares,sobrevivências vulneráveis.
A proximidade revelada pela indomável sobrevivência, uma alteridade profunda, fraturante relação com a revelação. Tratar-se-á do magnífico encontro entre o que perdura na memória e o que pode ser encontrado na representação, o “milagre” da ausência como essência da representação.

Graça Magalhães, inverno 2023

Este trabalho sobre a Sicília, em parte, ganhou forma graças à descrição mnemónica de um querido artista siciliano. Os lugares, a arquitetura, as estradas, as paisagens por vezes desertas outras luxuriantes, as paredes de pedra repletas de cavidades, destinos, esquecimentos, silêncios revelaram-se dia após dia. Um itinerário temporal. A percepção dos lugares atravessados, a atenção particular dada aos elementos fará deles um acontecimento. É esta leitura que definirá o traço, referenciando as impressões e a memória destas impressões. Traço caracterizado pelas circunstâncias desta viagem.

Eliane Beytrison, inverno 2023

Biografia:

Graça Magalhães nasceu no Porto em 1960. Licenciou-se em Artes Plásticas – Pintura pela Escola Superior de Belas Artes do Porto.
Entre 1987-1990 estudou em Roma e Florença enquanto bolseira do Ministério dos Negócios Estrangeiros e da Fundação Calouste Gulbenkian. Em 1993 concluiu o mestrado em Impressão (litografia) na Tama Art University em Tóquio, como bolseira do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Japão. Em 1995 estagiou no Laboratório de Estudo de Obras de Arte pelo Método Científico no epartamento de Arqueologia e História de Arte da Universidade de Louvain-la-Neuve.
Expôs em Portugal e no estrangeiro. Desde 2001, é docente e investigadora da área de Desenho e Estudos de Arte da Universidade de Aveiro. Vive no Porto.

Eliane Beytrison nasceu na Suíça em 1960. Estudou pintura na Escola de Belas Artes de Sion e na Academia de Belas Artes de Florença.
Efectuou numerosas exposições colectivas e individuais na Suíça, Itália, Palestina, Iraque, França e Portugal e workshop na Palestina, Egipto, e Suiça os quais derem origem a várias destas exposições. Realizou alguns projetos na unidade de cuidados intensivos do Hospital Universitário de Genebra (HUG), desenhando os doentes no seu contexto hospitalar. Estes desenhos foram reunidos numa publicação.
Actualmente, trabalha num projecto sobre o estado de coma, em colaboração com médicos e enfermeiros, sempre na unidade de cuidados intensivos (HUG). Vive em Florença.

Equipa:

Direção Artística e Curadoria: Clube de Desenho

Desenho de Exposição e Montagem: Carlos Pinheiro, Eliane Beytrison, Graça Magalhães, Sofia Barreira

Produção: Sofia Barreira

Material Gráfico: Diogo Nogueira